sexta-feira, 24 de outubro de 2014

ABANDONO DE OBRAS PÚBLICAS EM PELOTAS

Homem entra com cavalo no local onde deveria estar sendo construída a ETE Novo Mundo, na avenida Francisco Caruccio, Zona Norte de Pelotas; empresa vencedora da licitação, a mineira Sanenco, abandonou a obra, orçada em 2011 em mais de R$ 15 milhões (Foto: Paulo Rossi - DP) 
FOTO: PAULO ROSSI
Homem entra com cavalo no local onde deveria estar sendo construída a ETE Novo Mundo, na avenida Francisco Caruccio, Zona Norte de Pelotas; empresa vencedora da licitação, a mineira Sanenco, abandonou a obra, orçada em 2011 em mais de R$ 15 milhões

Encontrar obras públicas paradas ou suspensas em Pelotas tem virado rotina na vida dos cidadãos, prenunciando um futuro ainda mais preocupante para 2015 e 2016, quando a cidade deve se transformar em um canteiro de obras.
Além do excesso de burocracia e o clima inconstante - as chuvas têm atrapalhado o andamento das atividades -, a prefeitura precisa lidar com a desistência das empresas vencedoras das licitações. A questão chegou a um ponto em que o Executivo avalia, inclusive, a possibilidade de recorrer à Justiça contra uma das empresas.
Os constantes adiamentos , além de desgastar a imagem da prefeitura, têm deixado a população cada vez mais frustrada devido a promessas que não se concretizam ou são adiadas.
É o caso das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) Novo Mundo e Rodoviária, cujos projetos se arrastam desde 2011 e agora foram abandonados pela empresa vencedora da licitação, a mineira Sanenco. Segundo o secretário-executivo da Unidade Gerenciadora de Projetos (UGP), Jair Seidel, o contrato da Novo Mundo já foi cancelado e o da Rodoviária caminha para isto, pois a construtora não deu andamento ao projeto e desde maio não realiza nenhuma intervenção no local.
Questionado sobre possíveis penalidades à Sanenco pela quebra de contrato, Seidel explicou haver cláusulas no documento que garantem o pagamento de multa à prefeitura em caso de desistência. Apesar disso, a construtora não ficará impedida de participar de outros processos licitatórios na cidade. Ou seja, mesmo abandonando um projeto para o qual foi habilitada, poderá voltar a disputar recursos públicos. "Nesse caso não podemos fazer nada. Por lei, o município não pode impedir a participação de nenhuma companhia se esta estiver dentro das normas."
Isto ocorre porque antes de ingressar em qualquer processo licitatório toda empresa precisa provar ter condições de realizar o projeto até o fim. Só assim ela é autorizada a apresentar proposta e concorrer à licitação, vencendo a que apresentar o menor preço. O sistema de contratação segue a lei 8.666/1993 - responsável por estabelecer as normas de licitações e contratos públicos -, mas nem sempre é justo para o contratante obrigado a pagar as parcelas referentes às etapas realizadas, mesmo com a desistência.
No caso da Sanenco, o orçamento de R$ 15.361.246,41 disponibilizado pela prefeitura em 2011 para a obra da ETE Novo Mundo e do Coletor Geral 3 (CG3) - o coletor chegou a ser finalizado - tornou-se insuficiente para cobrir os custos da obra. "Eles queriam um ajuste de preço que ia muito além do orçado e por isso optamos por cancelar o contrato", diz Seidel, acrescentando: "Agora vamos começar tudo de novo. Precisamos orçar, de acordo com os valores vigentes, e depois licitar. O processo é muito burocrático."
Seidel confirma ainda o encaminhamento de inquérito administrativo à Procuradoria Geral do Município que pode optar por processar ou não a Sanenco. De acordo com o especialista em Direito Administrativo, advogado Celso Moresco, a decisão vai depender da forma como o contrato foi redigido e cancelado. Caso decida entrar na Justiça, o Poder Público pode processar a companhia por inidoneidade, tornando-a inelegível para qualquer outra licitação. "Há uma série de prerrogativas que a prefeitura pode adotar, é só querer."
A ETE Novo Mundo vai ser construída na avenida Francisco Caruccio, Zona Norte de Pelotas, e quando estiver concluída receberá e tratará os resíduos coletados pelo CG3. Parte do material vai ser encaminhada ao canal Santa Bárbara e o restante será decomposto e liberado na atmosfera. Hoje apenas 26% do esgoto produzido na cidade é tratado. Este percentual subirá para 80% após a finalização da Novo Mundo, beneficiando os quase 76 mil moradores da Zona Norte.

INFORMAÇÕES: DAIANE SANTOS

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